Este Robin Hood holandês tem a missão de construir 1000 casas populares no Nordeste brasileiro.
foto do Facebook de Luc Bernoster
Luc Bernoster tem só 23 anos mas já sabe bem o que quer fazer da vida: ajudar os outros, deixar uma mudança positiva no mundo. Tudo começou há alguns anos quando um problema de saúde o deixou imobilizado por um bom tempo. Forçado a encarar a brevidade e fragilidade da vida, decidiu fazer bom uso da sua. Queria fazer algum tipo de trabalho humanitário, mas não sabia por onde começar. Descobriu que o irmão de um vizinho era um padre que tinha projetos sociais em comunidade carentes no Brasil e decidiu ajudá-lo, assim que o repouso obrigatório terminou. Logo depois, junto com outros 16 jovens holandeses, embarcou para o Brasil para ajudar o padre a construir uma igreja e uma horta comunitária na região de Campina Grande.
A chegada no Nordeste foi um choque: “ A primeira coisa que eu entendi foi que algumas pessoas simplesmente não têm como resolver os seus problemas, não têm nenhuma chance. Eu moro na Holanda e eu tenho. Uma das razões pelas quais as pessoas não tem nenhuma chance na vida, na região que eu visitei, é a absoluta carência de moradias. As moradias que existem são caras demais para as comunidades mais pobres e o governo do Brasil tem pouca influência sobre esta situação de mercado. Neste ponto eu pensei: alguém tem que fazer algo para melhorar esta situação e prometi àquela comunidade que este alguém seria eu.”
Luc com a mão na massa, literalmente, durante sua primeira visita ao Brasil, em 2011.
Três semanas depois, de volta à Holanda, Luc retornou seus estudos pra se tornar agente imobiliário e começou a escrever um business plan, com a ajuda de um primo, bom de negócios, que gostou da ideia. O plano era construir uma pequena comunidade com 20 moradias e uma horta comunitária, cuja colheita seria distribuída entre os mais pobres. Através da namorada na época, ele conseguiu contatos na melhor escola de Administração de Empresas da Holanda. Estes contatos consideraram a ideia boa o suficiente para atrair possíveis investidores. Na mesma época, alguém apareceu na sua faculdade para dar uma palestra sobre construção com EPS. Tudo se encaixou na cabeça de Luc: segundo o palestrante, a construção com EPS era sustentável, mais rápida e mais barata que a construção com materiais convencionais.
bloco para construção de EPS com a aplicação da tela de fibra de vidro
O que é EPS? O nome científico é “expanded polystyrene” e o nome comercial e patenteado é Airpop. Basicamente, o Airpop é um material resistente e isolante térmico, composto de bolinhas de ar coladas umas às outras com poliestireno, ( 98% ar, 2% estireno). É comparável ao material usado em embalagens de produtos eletrônicos e outros produtos frágeis. A diferença da versão usada para a construção é que ela é muito mais densa (muito mais bolinhas por m2), e uma tela de fibra de vidro é aplicada para que a pressão se distribua entre as “bolinhas” o que torna o material muito mais resistente. A sustentabilidade vem do fato que todos os restos podem ser reciclados até 7 vezes, a emissão de carbono resultante da produção do Airpop é menor comparada àquela dos materiais de construção tradicionais e as propriedades isolantes do material contribuem para um menor consumo de energia (com aquecedores em lugares frios ou ventiladores, no caso do Brasil) . EPS é 6 vezes mais isolante que os materiais de construção convencionais.
A ideia inicial da empresa EPS Building Solutions era de caráter humanitário : construir rapidamente moradias em comunidades destruídas por cataclismos como terremotos, furacões e tsunamis Logo depois, caiu a ficha na cabeça dos jovens empreendedores que fundaram a empresa e eles pensaram “ não precisamos esperar que uma tragédia aconteça. Luc explica: “O que acontece depois de um tsunami, por exemplo, é que muita gente fica sem casa, passa fome e chega a falecer, devido a condições sanitárias precárias. Mas em partes da África, esta é uma situação cotidiana, e em partes do Brasil também.“ Depois daquele momento “eureca!” , os fundadores da EPS se juntaram a outras empresas e em 2014 lançaram um plano ambicioso: 1 milhão de moradias construídas com EPS em 7 anos. 140000 já estão sendo negociadas em países como Nigéria, Ruanda e Gana, na África, e em outros países da America Latina e Ásia. Segundo Luc, o plano está andando de acordo com o cronograma. Ele explica que a parte mais demorada é antes da construção em si começar e envolve contatos com autoridades locais, agências de regulamentação, financiadores, etc.
Voltando ao nosso Robin Hood laranja, Luc agora é o responsável pelo desenvolvimento do projeto da EPS Building Solutions no Brasil, com a missão de construir 1000 moradias no país até 2020. No final de 2014 ele já passou 2 meses em Campina Grande estabelecendo os primeiros contatos oficias com o governo local. Ele explica porque este contato é importante: “ A construção com EPS chega a custar 40% menos porque a margem de lucro da empresa é de 2,5% (enquanto a margem de lucro praticada na construção convencional na região varia de 35 a 80%) e os custos com mão de obra também são 60% mais baixos. Portanto, com o mesmo orçamento, as autoridades locais conseguem construir 40% mais moradias, e isso interessa a qualquer político. As moradias planejadas para a Nordeste brasileiro têm 62,50m2 de superfície e custariam aproximadamente 28.000 reais cada para construir.
planta e simulação gráfica das moradias projetadas para o Brasil
Ele explica também que o aval do governo local é essencial para que o projeto da EPS Building Solutions seja aceito pelos financiadores do Programa Minha Casa, Minha Vida, a Caixa Econômica e o Banco do Brasil.
Além de fazer os contatos com o governo, agências de regulamentação, e eventuais fornecedores locais (o estireno poderia ser fornecido pela Petrobrás, por exemplo), Luc pensa também em tentar criar um projeto de transferência de tecnologia com uma das universidades de Campina Grande. As primeiras casas provavelmente serão construídas em Garanhuns, em Pernambuco, onde as discussões com o governo local já estão num estágio mais avançado. Num próximo estágio, duas fábricas serão construídas no Nordeste: uma para a produção dos blocos de EPS e a outra para a reciclagem dos restos. Luc fala com tanto entusiasmo e convicção sobre seus planos que é impossível não torcer junto para que seu sonho se realize. Go, Luc!!!
Luc no gabinete do prefeito de Garanhuns (PE) , com seu bloco de EPS na mão.
© Braziel 2015